Enfaixar os pés desde menina, com ataduras apertadas o suficiente para quebrar ossos e arqueá-los, interrompendo o crescimento, foi um costume na China por muito tempo, pelo menos desde o início do século X.
O enfaixe começava aos 5 anos de idade, tradição passada de mãe para filha, e tinha por objetivo atrair o sexo oposto e conquistar um bom casamento.
As ataduras dobravam os quatro dedos menores até a sola dos pés e forçavam o calcanhar para dentro, exagerando o arco. O processo era torturante. Garotas choravam em agonia, incapazes de comer, beber ou pensar por causa da dor.‘‘Claro que isso era doloroso’’, lembra Wang Yixian, 78 anos. ‘‘Mas se você não enfaixava os pés, não achava marido.’’
Muitos chineses achavam os pés atrofiados muito eróticos, como os seios são para os americanos e o bumbum para os brasileiros. A idéia era de que unidos, lembrassem a flor de lótus e formassem uma 'segunda vagina', muitas vezes mais interessante para o homem do que a própria vagina. Um pé enfaixado com sucesso tinha de 7cm a 10cm. Andar era difícil: as mulheres oscilavam de um lado para o outro, o que também lembrava a imagem da flor de lótus ao vento.
A flor de Jasmim é uma pequena flor branca e perfumada. Para os chineses simboliza a elegância e a pureza, razão pela qual, muitos músicos chineses criaram várias canções dedicadas a esta flor.
"Flor de Jasmim" é a canção mais gravada na China nos últimos 50 anos, chegou também ao palco internacional. Por exemplo, o famoso compositor italiano Puccini empregou a melodia de Jasmim para criar a música tema da ópera Turandot.
Saindo de um sonho, aos soluços, tenho medo da dor da primavera. A fumaça apaga-se no queima-incenso em forma de pato, mas o aroma persiste Minha fina colcha não me protege do frio da madrugada Os cucos cantam e cantam até que da torre oeste a lua se precipita. Zhu Shuzhen (1063-1106)
Veja bem, Não preze muito teu colete de brocado com fios dourados Veja bem, aprecie o breve turno da juventude. Quando a flor está pronta, tem de ser colhida. Não espere flores no chão ou ramos nus que se quebram.
Lavados pelo orvalho, dispersam-se os cantos das cigarras E como folhas que se amontoam com o vento Cada canto vai se misturando com o próximo, Mesmo que vivam, cada um, em seu próprio galho.
Em fevereiro, leve, suaves painas de salgueiro Brincam com a roupa das pessoas na brisa da primavera São criaturas sem coração voando para o sul num momento, e para o norte, logo depois.
1 As flores desabrocham, sem que possamos compartilhá-las. As flores tombam, sem que possamos repartir nossa tristeza. Caso queiras saber o momento em que as saudades mais apertam: Quando as flores desabrocham, e depois, quando caem.
2 Arranco um talo de grama, faço com ele um nó de coração Para enviar àquele que entende o meu cantar. A dor da primavera chegou a um ponto sem volta, E os pássaros da primavera de novo em tristes canções.
3 Vento, flores, o dia vai chegando ao fim. Ninguém sabe quando estaremos juntos. Se não posso atar meu coração ao do meu homem, Inútil continuar fazendo nós em forma de coração.
4 Insuportável assistir à caída de flores dos galhos Quando nós dois sentimos saudades um do outro. Lágrimas riscam meu espelho de manhã, como palitos da jade Será que o vento da primavera sabe disso?
Atrás de uma cinta de neblina do anoitecer, o gélido céu goteja E a melodia de uma cascata ao longe, como dez cordas musicais, Vem ao meu travesseiro, para atiçar meus sentimentos, Deixando-me sem sono e infeliz, depois da meia noite.
Nunca me esquecerei daquela tarde no pavilhão à beira do rio. Tontos de tanto vinho, não achávamos o caminho de volta. E zonza ainda, a felicidade retardava o nosso barco, Enquanto avançávamos no verde denso dos lótus em flor, Até irrompermos na margem, espantando garças e gaivotas.
Cansada, deixa o balanço, Limpa suas mãos delicadas Como uma flor frágil coberta de orvalho. Um leve suor embebe sua roupa.
À vista do estranho, no fundo do jardim, Com meias de seda, o grampo de ouro escorregando dos cabelos, Cheia de timidez, ela foge. Mas na porta entreaberta, volta-se, Como se quisesse respirar o aroma das ameixas verdes.
Apesar de meu talento e sabedoria Filha de triste destino Não acho um jeito de ficar contigo. Eu aliso essa folha magnífica E nela escrevo meu desespero e sofrimento Enquanto dançam salgueiros ao longo do caminho E minha melancolia aumenta sempre Como chorar meu destino infeliz? Minha vida está num impasse, Por causa de minha leviandade. Tu te lembras de nossas promessas sob o luar? Não era um sonho: Se um dia voltares Não te esqueças de visitar nosso quarto E de derramar um copo de vinho sobre minha tumba.
Entre minhas lágrimas de amor O vermelho fica verde, De tanto pensar em ti Meu corpo se debilita E ultimamente não paro de chorar e solitária, abro a mala Para admirar Essa saia vermelha de que tanto gostas.
Comovida com teu amor e tua fidelidade Eu me aconchego em teus braços apesar da tímidez: Juntos, entre arroubos e abraços Não ouso, envergonhada, acender a lâmpada e te olhar.
Lui Yuesu, Dinastia Sui (581-618)
Ao por do sol na frente de casa Olho quem passa: é seu, o rosto que me ofusca, cabelos que me hipnotizam, E esse perfume que enche a rua inteira.
Zi Ye (séc.III e IV)
"Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um; porém se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia, e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas."
Frio lá fora, orvalho, a lua crescente e ela vestida só em seda leve o lute, em prata, tange a noite inteira dentro é seu medo, o quarto e o vazio
Wang Wei
Um cento de montanhas sem pássaro algum. Dezesseis mil quilômetros sem o rastro do homem. Um barco. Um velho homem com uma capa de palha, sozinho na neve, a pescar no rio gelado.
Liu Tsung-Yuan
Dia após dia a chuva cai. Semana após semana a erva cresce. Ano após ano o rio corre. Setenta anos, setenta anos, E a roda dos sonhos ainda a girar.
Wang Hung Kung
Os dois nomes da poesia chinesa, no século oitavo da nossa era, são os de Li Po e Tu Fu. Dizem que Li Po morreu afogado num rio, tentando abraçar a imagem da lua refletida nas águas. Essa versão de sua morte pode ser puramente lendária, dados o encanto com que ele sempre se ocupou da lua, nos seus versos. Do apreço em que era tida, porém, a sua poesia, fala-nos um poema de seu amigo Tu Fu, ressaltando as qualidades poéticas de Li Po e da sua superioridade em relação aos artistas seus contemporâneos. (Poemas Chineses - Li Po e Tu Fu - Tradução de Cecília Meireles)
Poema de Tu Fu a Li Po
Tu escreves como o pássaro canta. Teu gorjeio? Versos. Se não cantasses, As manhãs seriam menos vermelhas E os crepúsculos menos azuis.
Quando a embriaguez te inspira, Os Imortais inclinam-se das nuvens Para te escutarem, O tempo suspende seu vôo, O bem-amado esquece a bem-amada.
Tu és o Sol e nós, Os outros poetas, Somos apenas estrelas.