sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Flor de lótus - pés enfaixados
Enfaixar os pés desde menina, com ataduras apertadas o suficiente para quebrar ossos e arqueá-los, interrompendo o crescimento, foi um costume na China por muito tempo, pelo menos desde o início do século X.
O enfaixe começava aos 5 anos de idade, tradição passada de mãe para filha, e tinha por objetivo atrair o sexo oposto e conquistar um bom casamento.
As ataduras dobravam os quatro dedos menores até a sola dos pés e forçavam o calcanhar para dentro, exagerando o arco. O processo era torturante. Garotas choravam em agonia, incapazes de comer, beber ou pensar por causa da dor.‘‘Claro que isso era doloroso’’, lembra Wang Yixian, 78 anos. ‘‘Mas se você não enfaixava os pés, não achava marido.’’
Muitos chineses achavam os pés atrofiados muito eróticos, como os seios são para os americanos e o bumbum para os brasileiros. A idéia era de que unidos, lembrassem a flor de lótus e formassem uma 'segunda vagina', muitas vezes mais interessante para o homem do que a própria vagina.
Um pé enfaixado com sucesso tinha de 7cm a 10cm. Andar era difícil: as mulheres oscilavam de um lado para o outro, o que também lembrava a imagem da flor de lótus ao vento.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
A canção de Jasmim
A flor de Jasmim é uma pequena flor branca e perfumada.
Para os chineses simboliza a elegância e a pureza, razão pela qual, muitos músicos chineses criaram várias canções dedicadas a esta flor.
"Flor de Jasmim" é a canção mais gravada na China nos últimos 50 anos, chegou também ao palco internacional. Por exemplo, o famoso compositor italiano Puccini empregou a melodia de Jasmim para criar a música tema da ópera Turandot.
A Canção de A-na
O colete de brocado com fios de ouro
O canto das cigarras
Painas de salgueiros
Observando a primavera
1
As flores desabrocham, sem que possamos compartilhá-las.
As flores tombam, sem que possamos repartir nossa tristeza.
Caso queiras saber o momento em que as saudades mais apertam:
Quando as flores desabrocham, e depois, quando caem.
2
Arranco um talo de grama, faço com ele um nó de coração
Para enviar àquele que entende o meu cantar.
A dor da primavera chegou a um ponto sem volta,
E os pássaros da primavera de novo em tristes canções.
3
Vento, flores, o dia vai chegando ao fim.
Ninguém sabe quando estaremos juntos.
Se não posso atar meu coração ao do meu homem,
Inútil continuar fazendo nós em forma de coração.
4
Insuportável assistir à caída de flores dos galhos
Quando nós dois sentimos saudades um do outro.
Lágrimas riscam meu espelho de manhã, como palitos da jade
Será que o vento da primavera sabe disso?
Xue Tao (768-831)
Primavera no outono
Como um sonho
No jardim
Cansada, deixa o balanço,
Limpa suas mãos delicadas
Como uma flor frágil coberta de orvalho.
Um leve suor embebe sua roupa.
À vista do estranho, no fundo do jardim,
Com meias de seda, o grampo de ouro escorregando dos cabelos,
Cheia de timidez, ela foge.
Mas na porta entreaberta, volta-se,
Como se quisesse respirar o aroma das ameixas verdes.
Esposa de Daí Shiping
Poema de adeus
Apesar de meu talento e sabedoria
Filha de triste destino
Não acho um jeito de ficar contigo.
Eu aliso essa folha magnífica
E nela escrevo meu desespero e sofrimento
Enquanto dançam salgueiros ao longo do caminho
E minha melancolia aumenta sempre
Como chorar meu destino infeliz?
Minha vida está num impasse,
Por causa de minha leviandade.
Tu te lembras de nossas promessas sob o luar?
Não era um sonho:
Se um dia voltares
Não te esqueças de visitar nosso quarto
E de derramar um copo de vinho sobre minha tumba.
Wu Zetian (624-705)
Escrito na solidão
Poema de amor
"Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um; porém se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia, e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas."
Provérbio Chinês
Canção de uma noite de outono
Os dois nomes da poesia chinesa, no século oitavo da nossa era, são os de Li Po e Tu Fu. Dizem que Li Po morreu afogado num rio, tentando abraçar a imagem da lua refletida nas águas. Essa versão de sua morte pode ser puramente lendária, dados o encanto com que ele sempre se ocupou da lua, nos seus versos. Do apreço em que era tida, porém, a sua poesia, fala-nos um poema de seu amigo Tu Fu, ressaltando as qualidades poéticas de Li Po e da sua superioridade em relação aos artistas seus contemporâneos. (Poemas Chineses - Li Po e Tu Fu - Tradução de Cecília Meireles)
Poema de Tu Fu a Li Po
Tu escreves como o pássaro canta.
Teu gorjeio? Versos.
Se não cantasses,
As manhãs seriam menos vermelhas
E os crepúsculos menos azuis.
Quando a embriaguez te inspira,
Os Imortais inclinam-se das nuvens
Para te escutarem,
O tempo suspende seu vôo,
O bem-amado esquece a bem-amada.
Tu és o Sol e nós,
Os outros poetas,
Somos apenas estrelas.
Acolhe,
Ó meu amigo,
O balbucio do meu respeito!
“Nosso Barco Desliza
Rio abaixo, tangido pela brisa,
o nosso barco, plácido, desliza.
Para além do vergel que orna as barrancas,
vejo os montes azuis, as nuvens brancas.
Dormita a amada. Com o olhar, afago-a.
Sua mão ebúrnea roça a fímbria da água.
Do seu ombro de frágil estatueta
alça-se e foge linda borboleta.
Sigo seu vôo trépido e suponho,
vendo-a sumir-se, alígera, pelo ar,
que a borboleta deve ser o sonho
que a doce amada acaba de sonhar.”
(Chang Wu Kian - 1879)
“A Sombra De Uma Folha De Laranjeira
Só, no seu quarto, uma donzela tece
flores de seda. As folhas nem se movem,
na tarde que sugere sonho e prece.
Nisso, uma flauta vibra: ela estremece
e pensa ouvir as frases de amor de um jovem.
Pouco depois a brisa sorrateira
agita os galhos de uma laranjeira,
a leve sombra de uma folha desce
e varando o papiro da cortina
pousa em seu joelho de ídolo esculpido.
Então, cerrando o olhar, ela imagina
que a mão do jovem rasga seu vestido.”
(Tin Tu Ling, 772-845)
Assinar:
Postagens (Atom)