domingo, 26 de abril de 2015

Estamos felizes





Estamos felizes, apenas felizes nesta noite.
Estamos inquietos, apenas inquietos quanto a amanhã.
Nesta noite somos dois patos mandarins, um contra o outro,
Até que tombem todas as flores da ameixeira.
O gongo da torre bate agora meia-noite.
Sombras na tela da janela mostram a lua caindo a oeste.
Se pelo menos pudéssemos segurar a lua em nossas mãos!

 Geng Menglong

O barco







Ter um caso é como um barco.
Você solta as velas e avança nas ondas.
A mulher diz para ele,
“Eu sei como lidar com essas tempestades de vento e de água;
Mantenha-se firme no leme e não caia no sono."

Estrela cadente








Ter um caso é como uma estrela cadente.
Ela penetra no céu.
A mulher diz para o homem,
“Toda vez que vejo seu fogo, me acendo,
Mas você logo se vai, como fumaça.”

Lanterna







Ter um caso é como uma lanterna.
Esburacada, perde-se com os boatos.
A mulher diz para o homem:
“Você vem em segredo, sem luz nenhuma,
mas me acende por dentro,
e deixa meu corpo em fogo.

Geng Menglong

Ao som de “Como um sonho”








Sombras confusas de folhas de bananeira
Lua a meio caminho por sobre a vermelha balaustrada
Vento que chega de um céu turquesa,
Soprando como uma cordão de pérolas cantantes
Invisível,
Invisível,
Meu amor oculto por uma cortina esmeralda.


  Sun Daoxuan

Lamentos de outono




 



Eu suspiro para mim mesma.
        Paixão demais traz sofrimento.
Tanto vento e lua no pátio,
        que se enche de outono.
O guarda marca horas no tambor
        bem debaixo de minha janela.
Noites e noites com a candeia acesa,
        meus cabelos quase brancos.

Yu Suanji (843-868)

Bilhete enviado numa carta com perfume de orquídea





 


Da madrugada ao entardecer,
        Sempre bêbada e meu corpo reclama.
Agora principia a primavera,
        e morro de saudades.
Um mensageiro afasta-se
        Enquanto a chuva cai.
Olho pela janela,
        meu coração partido.
Montanha, fecho a cortina
        de gaze e de pérolas.
Renova-se minha dor
        com a fragrância da relva.
Desde que lhe disse adeus,
        na claridade do festim,
Diz-me, quantas vezes
        Das vigas do teto soltou-se o pó?

Yu Suanji (843-868)

Adeus





 



Depois dessas poucas noites
        na Torre Qin,
Homem imortal,
       não esperava que partisses,
Dorme, não diga para onde
        Foram-se as nuvens.
Um mariposa arisca
        debate-se
no lume da candeia.

Yu Suanji (843-868)

terça-feira, 7 de abril de 2015







Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um com um pão, e, ao se encontrarem, trocarem os pães, cada um vai embora com um.
Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um com uma ideia, e, ao se encontrarem, trocarem as ideias, cada um vai embora com duas.


Provérbio Chinês

domingo, 5 de abril de 2015

Lamentos de Primavera, ao som de “Flores de Magnólia”





Eu caminho sozinha, me sento sozinha,
Canto sozinha, bebo sozinha e durmo sozinha.
Sempre sozinha, minha alma chora.
Só uma luz fria me acaricia. 
Quem pode ver
As lágrimas que estragam minha maquiagem,
Ou a dor e doença, agora de mãos dadas,
Ou eu aqui, arrumando o pavio do candeeiro até que a luz se vá, sem que chegue o sonho? 

Zhu Shuzhen (1063-1106)

A Canção de A-na






Saindo de um sonho, aos soluços, tenho medo da dor da primavera.
A fumaça apaga-se no queima incenso em forma de pato, mas o aroma persiste
Minha fina colcha não me protege do frio da madrugada
Os cucos cantam e cantam até que da torre oeste a lua se precipita. 

Zhu Shuzhen (1063-1106)

O colete de brocado com fios de ouro






Veja bem,
Não preze muito teu colete
de brocado com fios dourados
Veja bem,
aprecie o breve turno
da juventude.
Quando a flor está pronta,
tem de ser colhida.
Não espere flores no chão
ou ramos nus que se quebram.

Liu Caichun – entre séculos 8 e 9

O canto das cigarras






Lavados pelo orvalho, dispersam-se os cantos das cigarras
E como folhas que se amontoam com o vento
Cada canto vai se misturando com o próximo,
Mesmo que vivam, cada um, em seu próprio galho. 

Xue Tao

Painas de salgueiros






Em fevereiro, leve, suaves painas de salgueiro
Brincam com a roupa das pessoas na brisa da primavera
São criaturas sem coração
voando para o sul num momento, e para o norte, logo depois. 

Xue Tao

Observando a primavera


 

 

As flores desabrocham, sem que possamos compartilhá-las.
As flores tombam, sem que possamos repartir nossa tristeza.
Caso queiras saber o momento em que as saudades mais apertam:
Quando as flores desabrocham, e depois, quando caem. 

 
Arranco um talo de grama, faço com ele um nó de coração
Para enviar àquele que entende o meu cantar.
A dor da primavera chegou a um ponto sem volta,
E os pássaros da primavera de novo em tristes canções. 


Vento, flores, o dia vai chegando ao fim.
Ninguém sabe quando estaremos juntos.
Se não posso atar meu coração ao do meu homem,
Inútil continuar fazendo nós em forma de coração. 


Insuportável assistir à caída de flores dos galhos
Quando nós dois sentimos saudades um do outro.
Lágrimas riscam meu espelho de manhã, como palitos da jade
Será que o vento da primavera sabe disso? 

Xue Tao

Poema de amor





 


Comovida com teu amor
         e tua fidelidade
Eu me aconchego em teus braços
         apesar da timidez:
Juntos, entre arroubos
         e abraços
Não ouso, envergonhada,
        acender a lâmpada
        e te olhar.

Zi Ye

Tristeza de ser mulher











Como é amargo ser mulher!
Nada no mundo vale tão pouco.
Menino fica comandando, na porta,
Como um deus caído do céu.
Seus corações vagam pelos quatro mares,
Milhares de quilômetros de vento e de pó.
Ninguém se alegra quando nasce uma menina:
Por ela, a família nem lhe prepara o quarto.
Quando cresce, esconde-se nos quartos do fundo,
Com temor de olhar um homem no rosto.
Choram quando ela deixa a casa para se casar,
Apenas uma chuva rápida, depois poucas nuvens.
Com a cabeça inclinada, ela compõe seu rosto,
Seus dentes brancos contra os lábios vermelhos;
Ela inclina-se e ajoelha-se vezes sem conta.
Diante das concubinas e dos servos.
Se seu amor é forte como duas estrelas,
Ela é como o girassol, sempre seguindo o sol,
Mas quando seus corações são água e fogo –
Milhares de demônios caem sobre ela.
Seu rosto acompanha a passagem dos anos:
Seu senhor vai encontrar novos prazeres
Os dois, que eram uma vez corpo e sombra,
Estarão remotos como chineses e mongóis
Às vezes, até mesmo chineses e mongóis se encontram
Mas estarão tão distantes quanto estrelas polares.

Fu Xuan (217-278)

Eu penso no meu marido





No pavilhão do oeste,
Uma lua límpida
Milhares de pereiras de brancas flores
Como uma camada de neve.
Eu entro no meu quarto
Um ganso selvagem solitário lamenta
Não longe da cidade deserta.
Onde estás agora, meu amor?
Sabes que ao sul do grande rio
A primavera já chega ao fim?
Tuas cartas são cada vez mais raras.
As pétalas de flor do pessegueiro tombam,
Levadas pela torrente profunda. 

Zhou Denhua

Costurado com fio de ouro






Não se arrependa de roupas costuradas com fios de ouro
É preciso viver a juventude efêmera
Não hesite em colher o ramo em flor
Será muito tarde depois que ele murchar.

Du Liuniang

Mal de amor






Sem forças, morro de amor,
Há muito tempo que Você me deixou
Inúmeras montanhas e vales nos separam agora e nenhum laço nos une
Meu espelho triste cobre-se de pó
Suas cartas, escondidas na minha longa manga, estão amassadas
Eu não consigo ver mais todo dia a sua silhueta
Quando foi que conheci o prazer do amor?

Song Ruoxian (Sec. IX).

Lágrimas no Terraço de Fênix






 
No porta-incenso dourado, a cinza já está fria
A cobertura de seda vermelha ondula durante toda a noite
Eu me levanto sem ter a coragem de me pentear
Deixando o toucador se cobrir de pó
E as cortinas fechadas, inundadas da luz do sol que já vai alto
Têm medo de reavivar a minha dor
Eu retenho minha tristeza
Ninguém para compartilhar meu sofrimento
Eu emagreço, tanta é a dor, a embriaguez nada tem a ver com isso
Nem a melancolia do outono
Nada dá certo
Meu amor me deixou bem cedo
Apesar de minhas mil promessas
Nada conseguiu retê-lo
Partiste para Wuling, longe de meus carinhos
Me deixando só no nosso pavilhão
Coberto por densa névoa
Só o riacho sob minha janela testemunha minha tristeza
Durante todo o dia eu olho em volta
Para o caminho por onde partiste
Tomada por um lancinante desamparo


 Li Qingzhao

Amor e melancolia








O lótus vermelho está murchando
O trançado verde de bambu anuncia o outono
Eu tiro docemente minha roupa de seda
E só, pulo na barca em movimento
Quem me envia uma mensagem pelas nuvens?
Os gansos selvagens já estão de volta
Meu pavilhão do oeste geme à luz da lua
Nada consegue parar as pétalas que seguem com as águas
Tão longe um do outro, um mesmo amor nos atormenta,
Nada pode apaziguar essa dor que se lia no meu rosto
E começa já a invadir meu coração. 

Li Qingzhao (1084 – 1151)

Penso em ti






As flores são sentimentais
A lua, mais ainda
Mas uma grande distância as separa,
As flores e a lua têm o coração cheio de tristeza
Fico sabendo de tua partida.
Temo tua partida.
Peço uma confirmação,
Porque nem sempre os boatos têm razão.

Zhao Wensu

Onde estás, meu amor?









A noite é bela,
Meu pensamento retorna sempre a ti
Quando Você volta para perto de mim?
A lâmpada sente-se abandonada
Treme na escuridão
Minha sombra vacila no claro-escuro
Sozinha, sobre o travesseiro, com quem eu posso falar?
Por sobre o pátio deserto
A lua é límpida
Minhas lágrimas encharcam minha roupa.

Xue Susu

A uma jovem


 




Tuas mangas longas de seda criam vagas de perfume, infinitamente
As flores de lótus dançam na bruma do outono, graciosamente
Tocadas pelo vento, no alto da colina, as nuvens flutuam, levemente
Os salso-chorões jovens acariciam a água do lago, amorosamente.

Yang Yuhuan (716-756)







Eu penso em meu amor
Depois de tua partida,
Não me chegou nenhuma notícia tua
Eu subo sozinha ao alto do pavilhão
Diante de mim, ao luar, água a se perder de vista
No céu, gansos selvagens passam  em formação 
Eles não me trazem qualquer mensagem
Até hoje erras sempre nesse fim do mundo.

Zhang Qianqian